Entre quais eu sou???

Assim como Clarice Lispector fez em A paixão segundo G.H, aqui não se busca responder quem sou, mas entre quais eu sou? Uma pergunta que envolve o sentido de nossa existência, que não é somente individual, mas que está baseado (e até determinado) na posição que ocupamos no mundo (classe, gênero, cor, em relação ao outro...), sobre o lugar da arte (é possível separar arte e vida?), o lugar que o Brasil ocupa no concerto das nações e sobre a questão do evangelho da graça x obras. Aqui há um espaço aberto para essas discussões! Leia, reflita e participe!



quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O FOGO E A ÁGUA

No século IV A.C., nos limites da província de Lu, estendia-se o território governado pelo príncipe Chuang. Embora pequeno, o distrito havia prosperado bastante no reinado anterior à do príncipe. Mas, desde que Chuang assumiu o governo, o distrito estava empobrecendo.
Confuso, o príncipe Chuang foi à montanha de Han, buscar um pouco da sabedoria do grande mestre Mu-sun. Ao chegar à montanha, encontrou o mestre sentado calmamente sobre uma pequena pedra, a contemplar o vale. Depois de lhe explicar a situação, Chuang esperou, ansioso, que o mestre falasse. Mu-sun, porém, não disse uma só palavra. Deu apenas um pequeno sorriso e com um gesto convidou o príncipe a acompanhá-lo.
Silenciosamente, eles caminharam até que o Rio Tan Fu molhasse os seus pés. De tão largo que era o rio, a outra margem não podia ser vista.
Depois de meditar olhando as águas, Mu-sun preparou uma fogueira. Quando as labaredas já subiam altas, o mestre disse a Chuang que sentasse a seu lado. E ficaram ali, sentados, por longas horas, enquanto o fogo queimava, brilhante e forte. A noite veio e se foi.
Quando a aurora chegou, as chamas já não dançavam mais. Mu-sun apontou então para o rio e, pela primeira vez desde que o príncipe chegara, falou: “Agora você entende por que é incapaz de fazer como seu predecessor fez para sustentar a grandeza de seu distrito?”
Chuang olhou-o perplexo. Ele sabia agora tão pouco quanto antes e sentiu-se envergonhado. “Grande mestre”, ele disse, “desculpe minha ignorância, mas não consigo alcançar sua sabedoria.”
Mu-sun continuou: “Reflita, Chuang, sobre a natureza do fogo que queimava à nossa frente. Era forte e poderoso. Suas chamas subiam, dançavam e choravam, como se se vangloriassem de algo. Nenhuma grande árvore ou animal poderia igualar-se em força. Com facilidade poderia ter conquistado tudo a seu redor. Em contraste, Chuang, veja o rio. Começou como um pequeno fio nas montanhas distantes. Às vezes rolava macio, às vezes, rápido, mas sempre seguia em frente, tomando as terras baixas como seu curso. Contorna qualquer obstáculo e abraça qualquer fenda, tão humilde é sua natureza. A água dificilmente pode ser ouvida. Quando a tocamos, percebemos que ela dificilmente pode ser sentida, tão gentil é sua natureza.”
O príncipe, atento ao que o Mu-sun dizia, começava a compreender: “E no final o que sobrou daquilo que foi o fogo poderoso? Somente um punhado de cinzas. Por ser tão forte, Chuang, ele destrói tudo à sua volta, mas também se torna vítima. Ele se consome com sua própria força. O rio, não. Ele é calmo e quieto. Assim, ele vai rolando, crescendo, ramificando-se, tornando-se mais poderoso a cada dia em sua jornada em direção ao imenso oceano. Ele provê a vida e sustenta a todos.”
Depois de um momento de silêncio, Mu-sun voltou-se para o príncípe: “Da mesma maneira como na natureza, isso ocorre com os líderes. Há aqueles que são como o fogo, poderosos e autoritários. Há também os que são humildes como a água, donos de uma força interior de grande alcance e capazes de capturar o coração das pessoas. Aqueles não constroem. Este trazem uma primavera de prosperidade para sua províncias.”
E continuou o mestre: “Reflita, Chuang, sobre o tipo de líder que você é. Talvez a resposta para seus problemas esteja aí.”
Ao ouvir estas palavras, a verdade se acendeu no coração do príncipe. Chuang ergueu os olhos. Tendo deixado seu orgulho de lado, ele agora só via o nascer do sol, do outro lado do rio.

PODE REPETIR, POR FAVOR?


Há várias maneiras de ser compreendido. Ser claro é uma delas. Anônimo.



É impressionante (e triste…) encontrar tanta gente, hoje em dia, que fala mal e escreve pior ainda.
É um tal de “vou estar enviando” pra cá, “jente” pra lá, erros de concordância, “nóis fumo, nóis viemo, nóis peguemo e nóis compremo”. E ainda por cima, muitos trabalham com atendimento a Clientes…


Cheguei a conclusão que não preciso de nenhum Machado de Assis ou Eça de Queiroz trabalhando perto de mim, mas… encontrar um “jeca tatu” na minha frente, convenhamos, é dose!


Quem lê pouco ou lê mal, tem enormes dificuldades de expressão e vai ficar nessa de “vou estar enviando”…

Além do mais, ler “expande” a sua inteligência. Miguel de Cervantes, autor de Don Quixote de La Mancha, uma obra prima da literatura mundial, disse, sobre a leitura:


“Quem lê muito e anda muito, vai longe e sabe muito.”





quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Graça, graça, graça


Caminhando Jesus viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifeste nele a graça de Deus. (São João 9:1-7).

Ao ler esse versículo, lembro-me do caso de Jó. Os amigos de Jó o acusavam de ter pecado, por isso, sua situação tinha ficado como ficou, feia, vale a pena reler essas páginas, pois há ensinamentos importantes para nós. Pois no final, ficamos sabendo que havia um propósito celestial para aquilo ali.

Ora, quantas vezes estamos passando por uma situação, e chega alguém e diz: “Você está em pecado, por isso está acontecendo” ou “Você é incompetente, por isso nada acontece”... Enfim, sempre a culpa é sua. Ou seja, se você for bom então será bem-sucedido. Se vc for estudioso, trabalhador será próspero, se vc for espiritual e ir aos cultos vc será abençoado, encontrará um marido e etc.

O evangelho da graça vem se contrapor às obras. Pois se perseguimos as benções segundo as nossas obras, erramos duas vezes: 1) ao ter nosso sentido de vida voltado para o sucesso 2) e anulamos a cruz de Cristo, pois ao acharmos que merecemos alguma coisa boa, então não é pela misericórdia de Deus, mas por mérito humano.

A Bíblia diz: “Não por força ou poder, mas pelo meu Espírito” (Zc 4:6) e diz também “Quem quiser salvar a sua vida tem de perdê-la” (Mt 16, 25). O Senhor propõe duas coisas para nós: a sua GRAÇA, favor imerecido, para as situações que vão além dos nossos limites, e que Deus usa para manifestar a sua glória, e uma nova VIDA com outro sentido, horizonte, onde o foco é a rendição do nosso ser a Deus, no lugar onde encontramos o que precisamos para a nossa alma ficar satisfeita.

*E não precisamos de mais questionamento, confusão e culpa para nossa vida, precisamos somente da revelação de Deus, precisamos de graça, graça e mais graça.

M.P.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

uma tentiva de fazer um conto clariciano

(In)significação

- E o beijo?

Um beijo é só um beijo.

É possível sentir algo mais ouvindo uma música. De fato saímos da realidade, somos arrebatados, subsumidos, nirvanizaniados? É possível sentir mais lendo um romance. É possível sentir mais e mais sentindo o mar... ouvindo música, lendo romance, sentindo mar, ouvindo um romance, lendo um mar, sentindo uma música, ouvindo o mar, lendo a música, sentindo o romance. Ou é possível sentir menos do que já se sentia? Até desaparecer. Menos, menos. Sem dúvida saímos da realidade ou quase. Quase.

Então devo sair da realidade? Inventar outra? Esquecer que se é bicho... Ou lembrar que se é bicho? Ou o problema é o fruir? Como fruir? Já que sou obrigada.

Um beijo romanceado é muito mais beijo. Mas só que ele não é beijo, é outra coisa. É um não palpável, é um não cheiro... Mas com muitas imagens, sensações e gostos. Porque o beijo mesmo tem gosto de beijo.

Sem sininhos, sem trilhas sonoras, sem imagens bonitas...

O beijo vem do latim basium, é o toque dos lábios com qualquer coisa, normalmente uma pessoa. Neste caso, o beijo na boca. Será um ato fisiológico, como dormir, comer, urinar? Quase. É um ato selvagem? Quase. Não é natural, porque há regras para beijar, há sentido no beijar, há civilização no beijar. Se bem que já há regras para tudo. Há pecados para tudo... Mas ainda é natural pela preparação automática do corpo para a coabitação, cruzamento, sexo, ou, sendo mais civilizada, fazer amor, 'fazer amor'... seja lá o que isso 'significa'.

O beijo é a assinatura. É a consumação ou a iniciação. É a certidão, o recibo. Prova de 'amor'? Freqüentemente. Prova de 'infidelidade'? Certamente.

Beijo é quase uma lembrança de alguma coisa, é quase uma tentativa de fugir, é quase um retorno... É mais, muito mais por ser menos, muito menos. E sacia alguma coisa. Beijo tem gosto de natureza. Beijo tem gosto do ser.

O beijo, com tanto peso da natureza, religião e sociedade, é uma marca, real e ilusória, mas uma marca, que não muda a vida.

Um beijo é só um beijo.

- Foi lindo! Aliás, toda a viagem foi linda. Tanto passeio incrível! Tanto lugar histórico para visitar. As praias... amo praias! Eu me perco naquela imensidão... E ele tão carinhoso, tão atencioso. Acho que ele gosta de mim... Até crise de ciúmes teve! Eu tinha conhecido um rapaz charmosinho dos arredores da cidade. Muito educado e bonito também. E ele não gostou. Mas a minha história mesmo foi com ele. Desde o começo já sentia o ar tenso... Contei que ele é comprometido? Mas, enfim, guardo de lembrança a seguinte imagem: um olhar brilhante como de coruja em noite chuvosa e lábios tão quentes... Quentes como o sol no deserto! Nunca vi uma pessoa arder tanto. E ele tinha chorado antes... Então eu o beijei e ele aceitou, e assim foi. Como nos filmes.

M.P.


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

interesse em relações humanas

Ninguém é bom, senão um só, que é Deus (Marcos 10:17)


Em uma conversa sobre relacionamentos amorosos, eu dei a seguinte declaração:

“Acho que amamos somente quem precisamos”.


E foi chocante. Interessante que, quando digo isso, as pessoas que mais se chocam são exatamente aquelas que estão vivendo relações “interesseiras”, mas não querem ouvir isso. Ouvir a verdade dói. Ser denunciado dói. Descobrir que não somos tão bons assim dói. Então me disseram:

“É uma maneira cruel de se pensar, pois, se for assim, então não existe nada. E o amor aos filhos e a amizade?”


Eu falei outras barbaridades. Disse que havia relação de posse com o filho, porque ele é extensão sua (aliás, os pais desejam que sejam), logo o sucesso dele é o seu também. Amizade então nem se fala. Somos amigos de quem nos interessa, de quem precisamos. Logo, quando não há mais a necessidade, a tendência é o laço se afrouxar, e poucas lágrimas no velório...


Ora, uma vez Jesus disse que éramos maus. E ele estava certo. A natureza humana é má, embora seja capaz também de uns gestos caridosos quando for interessante...


Sendo assim, não acho que tudo está perdido, pois o Salvador que necessitamos já veio e nos ensinou: “Sem mim nada podeis fazer, mas estarei contigo até o fim dos dias” (Jo 15:1 e Mt 28:20).


Jesus nos ensinou a fazer o bem em silêncio, sem recompensa terrena. Ele nos ensinou a amar não somente os estranhos, mas os inimigos. Mas como? Pela morte do eu (da nossa natureza humana), para deixar Cristo viver no lugar de nós.


Assim, nós continuamos visando ser recompensados, mas uma recompensa diferente.


Temos a consciência de que agradamos a Deus e que o nosso galardão está no céu. Isso nos traz paz e nos faz melhores.


Nele, Jesus Cristo, que nos ama desde o princípio.

M.P.

Nesta Segunda, Leon Trotsky ...


“O capitalismo (...) preparou e, num certo sentido, realizou a universalidade e a permanência do desenvolvimento da humanidade. Por isto está excluída a possibilidade de uma repetição das formas de desenvolvimento de diversas nações. Forçado a se colocar a reboque dos países avançados, um país atrasado não se conforma com a ordem de sucessão (...)”. As sociedades menos desenvolvidas têm a possibilidade, ou, mais exatamente, são obrigadas a adotar certos traços avançados saltando as etapas intermediárias: “Os selvagens renunciam ao arco e flecha, para logo tomarem os fuzis, sem percorrer a distância que separava, no passado, estas diferentes armas. (...) O desenvolvimento de uma nação historicamente atrasada conduz, necessariamente, a uma combinação original das diversidades. A órbita descrita
toma, em seu conjunto, um caráter irregular, complexo, combinado
”.


Este trecho é uma reflexão de Leon Trotsky (Histoire de la révolution russe, Paris, Seuil, 1962, pp. 20-21.) que encontrei num texto de Michael Löwy.


A questão é: é possível regular este atraso histórico com movimentações sociais e educacionais?

Leia o texto inteiro em: http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/01/out01_06.pdf

quarta-feira, 16 de julho de 2008

IX Congresso Internacional da ABRALIC

Gente, este é o Congresso no qual a Marcela está!

Ocorreu de 13 a 17 de Julho na FFLCH/USP. Assim que ela voltar, nos contará um pouco do que assistiu lá! Ela está animada, então imagino que foi muito produtivo!

Para quem participou:
  • Data limite para alterações e envio dos textos integrais para publicação nos Anais: 15/08/2008
  • Liberação dos Certificados aos participantes em todas as categorias: 30/08/2008
  • Publicação dos Anais do Congresso em formato digital, na homepage da ABRALIC: 30/09/2008

Para saber mais, acesse: http://www.abralic.org