Entre quais eu sou???

Assim como Clarice Lispector fez em A paixão segundo G.H, aqui não se busca responder quem sou, mas entre quais eu sou? Uma pergunta que envolve o sentido de nossa existência, que não é somente individual, mas que está baseado (e até determinado) na posição que ocupamos no mundo (classe, gênero, cor, em relação ao outro...), sobre o lugar da arte (é possível separar arte e vida?), o lugar que o Brasil ocupa no concerto das nações e sobre a questão do evangelho da graça x obras. Aqui há um espaço aberto para essas discussões! Leia, reflita e participe!



segunda-feira, 11 de agosto de 2008

interesse em relações humanas

Ninguém é bom, senão um só, que é Deus (Marcos 10:17)


Em uma conversa sobre relacionamentos amorosos, eu dei a seguinte declaração:

“Acho que amamos somente quem precisamos”.


E foi chocante. Interessante que, quando digo isso, as pessoas que mais se chocam são exatamente aquelas que estão vivendo relações “interesseiras”, mas não querem ouvir isso. Ouvir a verdade dói. Ser denunciado dói. Descobrir que não somos tão bons assim dói. Então me disseram:

“É uma maneira cruel de se pensar, pois, se for assim, então não existe nada. E o amor aos filhos e a amizade?”


Eu falei outras barbaridades. Disse que havia relação de posse com o filho, porque ele é extensão sua (aliás, os pais desejam que sejam), logo o sucesso dele é o seu também. Amizade então nem se fala. Somos amigos de quem nos interessa, de quem precisamos. Logo, quando não há mais a necessidade, a tendência é o laço se afrouxar, e poucas lágrimas no velório...


Ora, uma vez Jesus disse que éramos maus. E ele estava certo. A natureza humana é má, embora seja capaz também de uns gestos caridosos quando for interessante...


Sendo assim, não acho que tudo está perdido, pois o Salvador que necessitamos já veio e nos ensinou: “Sem mim nada podeis fazer, mas estarei contigo até o fim dos dias” (Jo 15:1 e Mt 28:20).


Jesus nos ensinou a fazer o bem em silêncio, sem recompensa terrena. Ele nos ensinou a amar não somente os estranhos, mas os inimigos. Mas como? Pela morte do eu (da nossa natureza humana), para deixar Cristo viver no lugar de nós.


Assim, nós continuamos visando ser recompensados, mas uma recompensa diferente.


Temos a consciência de que agradamos a Deus e que o nosso galardão está no céu. Isso nos traz paz e nos faz melhores.


Nele, Jesus Cristo, que nos ama desde o princípio.

M.P.

10 comentários:

Fabiano Vale disse...

Seria interessante em seu texto, Marcela, você definir o que vem a ser uma "relação interesseira" e distingui-la das demais com mais ênfase. Outros conceitos que podem ser desenvolvidos são os de "bom" e de bondade, ressaltando a relação destes com a santidade.

"Somos amigos de quem nos interessa, de quem precisamos". Precisamos, sim, dos outros. Mas não somente de seus dinheiros, casas, patrimônios. Porém, de seus amores, afetos, companhias.

Amar e ser amado não é uma necessidade exclusivamente social, econômica; contudo, física orgânica, do próprio ser humano. Sem isso não vivemos.

As relações humanas são por demais complexas. Nelas há sempre renovação, modificação e, também, deturpação. Todo esse processo é natural. É imanente à própria natureza humana. Como você mesmo percebeu: somos maus e capazes de "gestos caridosos".

Somos pura contradição. É nisso que somos diferentes dos deuses e de Deus (como queira). A nós é dada a possibilidade, o devir, a dúvida. E, por conseguinte, o futuro. Aos deuses cabe apenas a certeza e o presente ad infinitum.

Amamos com o interesse de sermos recompensados. Mas não com algo material (objeto) em troca, porém pela necessidade, única e exclusiva, de sermos correspondidos com amor, não importando a quantidade deste.

E isso nos basta. Quando uma relação amorosa caminha para tal fim, sentimos falta de algo. Daí vem, por exemplo, a angústia, frustração e o sentimento de ausência. A natureza mesma da relação foi deturpada, reificada.

Acredito que em nossas relações devemos procurar o lado positivo e negativo destas, procurando a superação ou a síntese de contradições. E, até mesmo, criar novas contradições.

Relações interesseiras sempre irão existir. Mas logo serão descobertas. E o véu que antes escondia as máscaras e a ausência de amor, sentido, cairá.

Margot disse...

Acredito que a própria definição do que seja amor não é clara p/ nós humanos. Nós idealizamos demais o que seria amar, e assim nos colocamos como bondosos (no sentido que não faríamos maldade), mas interessante que o amor humano ACABA. Uma pessoa que quer separar de outra diz: 'O amor acabou'.

Bom, de acordo a Biblia o amor nunca acaba.
Mas o amor humano (e achO que Clarice Lispector tem uma reflexão nesse sentido) acaba. Pq a necessidade do outro acaba, seja ela econômica ou afetiva, embora esses dois estejam mais ligados do que se imagina.
Por isso nossa necessidade de Deus, p/ amar como define I Co 13. Com atos 'desinteresseiros'.

Lorena disse...

Concordo que amamos somente quem precisamos!
Mas o amor é uma necessidade, e aí eu vou concordar discordando do Fabiano!
Do meu modo de ver, amamos porque precisamos nos sentir completos! Já se apegou a alguém sem mesmo gostar desta pessoa? Pois é! Existe uma necessidade humana, algo que é mais que fisiológico...faz parte da nossa essência enquanto Homens de carne, osso e porque não dizer, coração! O amor é uma forma egoista de satisfazer o nosso proprio ego, mas que acaba dando certo quando satisfaz o ego do outro! É por isso que há frustração, choro e vazio quando não se é correspondido ou quando acaba...porque o amor acaba por ser pura vaidade!

Fabiano Vale disse...

A definição do amor é tão imprecisa quanto o nosso sentimento relacionado a ele. No entanto, isso não impede que o vivenciemos todos os dias.

Concordo que o amor acaba, principalmente aquele voltado para o eu personalístico (Fabiano, Marcela, Lorena). Esse amor egoísta, sim, deve findar, tal qual quem o sente. Da mesma forma, tudo no universo tem o mesmo fim. A morte é essencial à vida. Sem a morte não haveria história da vida, nem mesmo a própria História.

Acredito que o amor sentido hoje é a soma e o desdobramento de todos os outros amores antes sentidos por pessoas anteriores a nós, que viveram, morreram, amaram e odiaram, compondo, assim, a história de seres viventes e amantes. Não amaríamos hoje se outros não tivessem amado antes. Ou seja, se eles não tivessem amado por nós.

Portanto, o amor que temos, sentimos, conceituamos e ideamos hoje devemos aos anônimos amantes da História. Esses anônimos amantes escreveram a história do amor mesmo que não soubessem disso. Apenas amaram.

Ninguém sabe quando essa história do amor começou, nem mesmo quem a iniciou. Mas a única certeza de que temos é a sua presença em todas as partes, pulsando e fazendo com que continuemos a viver e a amar também.

Essa presença é indefinível. Já escapou há muito tempo de qualquer singularidade. Hoje apenas pode ser sentida, independente de queira ou não submeter-se a sua força.

Não é deixando de amar uma pessoa que o amor vai acabar em nós. Se tivermos a idéia muito bem definida de que o amor que sentimos não nos pertence, assim como o ser amado, estaríamos mais livres para viver o próprio amor em toda a sua plenitude.

A prova mais difícil para qualquer amante é deixar o ser amado ir quando bem entender. E amar quando bem entender.

Margot disse...

Bonito o seu texto, mas vejo muita idealização nele e até mesmo repetição do que sempre ouvimos.

O sentido proposto por mim é uma reflexão sobre isso, ver o lado perverso e egoísta desse amor humano, que não acho tão sublime e incorruptível assim, e depois de fazermos essa análise, reconhecendo que somos maus (nós, os humanos), aprender um pouco sobre os ensinamentos de Deus e tentar melhorar ao reconhecer nossas fraquezas e a depender Dele.

*E para todo sentimento humano há causas bem históricas...
Ninguém é bom, mas tb ninguém é totalmente mal, somos seres imperfeitos, cujo ego precisa morrer.

Lorena disse...
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Lorena disse...

PRECISA MORRER!!! Ah sim, o ego tem que morrer! Ora Fabiano, Deus nos criou sua imagem e semelhança! Deus é amor e portanto, o amor faz parte da nossa formação, da nossa essencia. O início o amor está em Deus, foi Ele quem o fez. O problema é: o que temos feito com esse amor que é muito mais que um sentimento? O amor é um conjunto de atitudes que tomamos. E como somos falhos (e isso foi escolha nossa), amamos errado. O amor que praticamos, na maior parte das vezes é um conjunto de atitudes egoistas. Assim como o amor faz parte da nossa natureza, existe uma maldade que é nata do Homem. Isso se mistou a nossa essencia, apesar de não ter sido o que Deus planejou para nós. Nós decidimos ser "conhecedores do bem e do mal" ainda que a Graça de Deus nos bastasse. É por isso que hoje debatemos sobre o amor e lutamos contra esse egoismo enraizado dentro da gente. O alvo é praticar o amor que Deus plantou em nós e não a "mistureba" que fizemos depois disso.

Fabiano Vale disse...

Há duas formas de amar aqui definidas: um amar humano, egoísta, e outro divino, perfeito e completo.

São duas formas também ideadas, principalmente pelo fato de pôr esquematicamente em lados opostos essas duas formas de amar.

Não existe nenhuma garantia de que uma seja melhor ou mais válida que outra. Nem o amor egoísta, nem o amor pleno.

Toda esquematização binária não é dialética. É antes maniqueísta. Mostrar um e outro também não o é.

Pensar dialeticamente é, sobretudo, antever o todo e analisá-lo em suas partes constituintes, como funcionam e interagem esses elementos, sem se procurar a oposições, mas perceber a natureza mesma dessa relação ou relações.

Daí decorre uma síntese dessa análise, que nunca deve ser ou pode ser definitiva.

O amor sendo soma e desdobramento de amores anteriores significa construção, sendo esta social e histórica. Portanto, ao mesmo tempo sendo humana e metarreligiosa, metafilosófica, meta-humana.

Pensar o amor sob esquemas, qualquer que seja ele, engessa o objeto. Procurar definir o amor é tentar aprisionar o que não pode ser cativo. Pensar o amor sob a ótica cristã ou materialista, ou qualquer outra, é tentativa de homicídio do amor.

O amor não é de Deus (no sentido de personalização humana) e nem do homem. Ele pertence à humanidade e ao universo.

Podemos discutir o que fazemos do amor, mas não o amor em si e sua natureza imanente, uma vez que ele é ininteligível e indefinível. O que deve ser feito é vivermos o amor, sentindo-o todos os dias.

Quem se preocupa com o que é feito do amor não o vive e nem o deixa entrar.

Margot disse...

Há realmente dois tipos de amor que falo.
Mas o problema exposto é o contraditório amor humano, o Amor divino é a solução que dou ao problema.
O amor humano que penso são atitudes de amor. E esse amor sim é perverso. Ele é bom ao ser perverso. E é perverso ao ser bom. Isso sim é pensar dialeticamente. Dois lados indissociáveis. O que fala mais alto na vida humana é o bem-estar do eu.
E acho que vc continua idealizando, não eu:
“Pensar o amor sob esquemas, qualquer que seja ele, engessa o objeto. Procurar definir o amor é tentar aprisionar o que não pode ser cativo. Pensar o amor sob a ótica cristã ou materialista, ou qualquer outra, é tentativa de homicídio do amor
Podemos discutir o que fazemos do amor, mas não o amor em si e sua natureza imanente, uma vez que ele é ininteligível e indefinível. O que deve ser feito é vivermos o amor, sentindo-o todos os dias.”
Achei um pensamento ingênuo, pois pensar dessa maneira é continuar a se achar bonzinho demais. É achar que vc ama de uma maneira incorruptível, sem interesse.
O que proponho é desmascarar o que parece inocente, pois ao fazer isso, por mais perversa que seja, eu estou consciente do meu potencial de fazer o mal disfarçado de bem, e com essa consciência, fico mais atenta a não prejudicar ninguém, pois, como disse, amamos quem precisamos... E qd deixo d precisar? Aí sim vem o Amor de Deus p/ me ajudar a não ser perversa.

Margot disse...
Este comentário foi removido pelo autor.